"Almoçava todos os dias no restaurante da UBE, e nas rodas de amigos não deixava de relembrar coisas de sua terra, Maceió. Veio de lá em 1927, muito moço, e nunca mais voltou para revê-la. Eu não me conformava:
- Por que não vai rever sua terra, Judas? É tão fácil... Voo de poucas horas.
Punha sempre obstáculos, nenhum deles convincente. "
O bairro de Jaraguá é a própria história de Maceió. Naquele pequeno trecho encravado entre o mar, o Poço e o Centro da cidade, surgiram os primeiros surtos de desenvolvimento da então vila, que cresceu tanto e superou a capital da Capitania, a então cidade de Alagoas, atual Marechal Deodoro, provocando a luta da transferência da capital para Maceió, onde já residia o governador e sediava as principais partições publicas. Esse desenvolvimento do bairro deve-se ao seu porto, que transformou o local num imenso comercio com negócios de todos os rumos.
Esse desenvolvimento do bairro deve-se ao seu porto, que transformou o local num imenso comercio com negócios de todos os rumos.
Mas Jaraguá surgiu antes mesmo da povoação de Maceió, originada de um engenho de açúcar de propriedade do coronel Apolinário Fernandes Padilha, no local onde hoje é a Praça Dom Pedro II. Aldeia de pescadores foi logo chamando a atenção de quem passava pelo caminho, margeando o mar.
Quando da chegada do primeiro governador da Alagoas, Sebastião Francisco de Melo e Povoas, desembarcando no porto de Jaraguá, a fama do arrebalde aumentou, projetando-se um lugar de futuro promissor. Naquela época (1818), já existiam algumas casas e a igreja de Nossa Senhora Mãe do Povo, construída pelo português Antonio Martins. Depois foram chegando novos investidores, que se instalaram no novo bairro: José Gomes de Amorim e seus irmãos Joaquim e Antonio, que previam o rápido crescimento do lugar.
Na verdade, graças à proximidade do ancoradouro, Jaraguá se tornou aos poucos um centro comercial de grande importância, sendo ocupados por bonitos sobrados, a partir da segunda metade do século passado. A arquitetura da época foi sendo aos poucos modificada. Mas o projeto de revitalização, que será executado pela prefeitura, retornará o esplendor do século XIX.
Nossas LetrasLetras, Arte e CiaA-A+22/02/2014 Autor(a): Caio Porfirio Função: Escritor e crítico literário
A aposentadoria como escritor
Caio Porfírio Carneiro: (Nossas letras , Arte e Cia)
"O poeta Judas Isgorogota trabalhou umas quatro décadas no jornal A Gazeta, de São Paulo, fundada por Cásper Líbero, e de lá saiu, não aposentado, mas através de um ‘acerto’ com a direção da empresa, então falida e em mãos de outro grupo, que lhe deu uma importância irrisória pelos anos de trabalho, pago em parcelas mensais. Quando se aposentou como escritor, com a minha ajuda e a ajuda de Antônio Carlos Augusto Bonafé, a Previdência descobriu o ‘acerto’ grosseiro e forçou o jornal a aposentá-lo como devia. Ele nos ficou grato pelo resto da vida e me deu meia dúzia de bom uísque estrangeiro, para que eu me embebedasse à vontade.
Na redação do jornal:
Caio Porfírio Carneiro : (Nossas letras, Arte e Cia)
"Judas não era bem um espírito vingativo, mas quando não gostava de um escritor ou de sua obra, sai da frente ... Descia a lenha através da sua página literária d’ A Gazeta. Arrasava com o sujeito."
"Eu colaborava semanalmente na sua página literária, resenhando livros. Brigávamos sempre. Quis modificar um texto meu, porque elogiei um livro de José Mauro de Vasconcelos. Ele detestava o Zé Mauro. Eu ameaçava de não escrever mais nenhuma linha para o suplemento dele. Ele recuava e me dava presentes. Tenho ainda comigo uma bela camisa vermelha, importada, caríssima."
Quando trabalhou com Monteiro Lobato:
Caio Porfírio Carneiro:
"Gostava também de relembrar os anos de trabalho na editora de Monteiro Lobato. Lobato quem leu os seus primeiros versos e assombrou-se com o seu talento. Nessa época ainda não adotara o pseudônimo de Judas Isgorogota. Assinava o seu nome verdadeiro: Agnelo Rodrigues de Melo. "
E se fez poeta de renome assinando sempre Judas Isgorogota. Agnelo Rodrigues de Melo só em documentos oficiais. Como aconteceu com o escritor Marcos Rey, que nasceu Edmundo Donato.
A publicação do último livro - XXX Poemas:
Um dia, eu, Volney Milhomem e Clóvis Moura resolvemos fundar uma editora. Chancela bonita: Editora Pasárgada. O primeiro livro, belamente impresso e pago totalmente pelo autor, claro, porque não tínhamos nenhum dinheiro e nem distribuidor, foi Noite Azul, excelente obra poética de Aluysio Mendonça Sampaio. Até o coquetel de lançamento muito concorrido, na Livraria Teixeira, foi pago pelo Aluysio.
Passamos a ser procurados. Cobrávamos uma faixa de lucro, porque queríamos ficar com algum... Pois o Judas, para nos prestigiar, porque ele tinha editora de graça, a Saraiva, que lançava todos os seus livros, publicou pela Pasárgada uma seleção dos seus poemas: XXX Poemas de Judas Isgorogota, em 1973. Ele escolheu até a gráfica e desembolsou tudo. Foi o último livro dele publicado em vida.
Personalidade:
Não era um espírito religioso, mas admirava muito a figura de Cristo e muitas passagens da Bíblia, presente em vários dos seus poemas. No fundo, um artista e um cético.
Sempre bem vestido e de chapéu, pasta debaixo do braço, naquele andar meio bamboleante, estatura mediana e magro, meio encurvado nos seus mais de setenta anos, óculos e olhar voltados para o chão.
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